Comecei o ano satisfeita com a vida. Orgulhosa do meu apê. Dos meus resultados financeiros e criativos no carnaval. Das minhas escolhas de vida. De onde cheguei depois de passar tanto perrengue desde que me mudei pra SP.
Quando era mais nova e me sentia assim, meio completa, sempre batia uma ansiedade. Uma tarde de choro no meio da plenitude. Um medo de tudo acabar. Lembro de uma vez que tava no cinema com o cara que eu gostava e simplesmente abri o berreiro porque sabia que aquela felicidade toda não podia ser normal na minha vida. Que logo ia passar.
Mas, no início deste ano, não. Foi diferente. Eu tava bem. Sem medo. Sentindo o gostinho da felicidade. Saboreando a vida que escolhi. Foi tão bom. Achei que finalmente tinha chegado “lá” emocionalmente. Mesmo sendo estudante de psicanalise e tendo a plena consciência de que esse “lá” não existe. Que é uma ilusão. E que a única garantia que temos nessa vida é a da angustia. Do vazio que se abre pra sempre na nossa existência quando a gente entende que somos um indivíduo. Quando surge o Eu.
E é claro que essa angustia tava lá nos meus dias de manhãs tranquilas recheadas de satisfação enquanto observava o sol entrando pela janela da sala. Ela tava lá mesmo durante as aulas de spinning, meu auge endorfina, ou após um final de semana repleto de gente querida. Tava lá, apaziguada, mas tava. Como sempre vai estar.
O problema é quando ela decide ser a estrela da temporada. Chamar demais a minha atenção. Fazer as lágrimas escaparem dos meus olhos quando esqueço de me distrair do sufoco na garganta. Como aconteceu lá pra março. Passei um mês ferrada, consumida pelo meu maior fantasma. E tudo de bonito que tava me fazendo sorrir a toa ficou ofuscado por um problema que acho que nunca vou conseguir resolver, mesmo sendo meu maior objetivo de vida.
Foram semanas difíceis. Mas eu sabia que ia passar. Sempre passa. Consome até o último suspiro da minha alma, mas passa. Dá uma trégua. Libera a minha respiração. Deixa o mundo voltou a girar. E girou. A rotina voltou a receber aplausos. O café com leite espumado voltou a ser motivo o suficiente pra ter vontade de dançar. Os finais de semana sempre em festa.
E aí vieram as férias. Amigas queridas, depois família. Croissant todo dia. Sobrinha começando a me chamar de “titia”. Paisagens lindas. A satisfação de agora conseguir enxergar o caos da dinâmica familiar e conseguir atravessar por ele sem tropeçar em cima de uma bomba armada. A angustia ali, claro, sempre à espreita, mas bem domada, menos quando os gastos ficaram maiores que o planejado. Cabeça apitando, mas logo relaxando quando aceitei que tinha condições de me proporcionar isso. Um perrengue a menos. Um pouco de luxo.
Até que chegou ele. Pá. O desemprego. A dispensa de um trabalho que era a minha cara. A despedida das colegas que viraram rede de apoio. Cada uma pra um lado. Precisar me reorganizar. Criar um novo presente. Buscar novas fontes de renda. 30 dias em casa lidando com o luto do que me foi tirado e com a ansia de solucionar o meu futuro. O medo de nunca mais fazer um real na vida. De ter que aceitar um emprego chato. Ganhando mal. Enfiar as minhas ambições no rabo. Meus sonhos no lixo. Morar num lugar horrível.
Caos total.
Altos e baixos.
Mas até que me saí bem. Eu acho.
Foi horrível, mas passou. O mês, no caso. Passou o mês. O primeiro depois da tragédia. Agora tenho outro pela frente. Mais um de salário antes de começar a torrar as minhas finanças. Vamos nessa. Firme e forte. Pelo menos processei o luto, já consigo olhar pra frente. Ser mais positiva. Ter esperança. Traçar caminhos. Marcar cafés. Me oferecer pro mercado.
Firme e forte? Sei não... Mas preciso dar conta. Sozinha. Me pôr pra cima. Me movimentar. Ir atrás do que quero. Mas o que eu quero? Hoje paguei o aluguel. Caro né, esse aluguel? Só depende de mim. Preciso dar conta. Sozinha. Só eu. Meu fantasma volta, põe mais peso na angústia. Fica grande e pequeno. Grande e pequeno. Tudo eu. Sozinha. Só. Tento jogar pra escanteio. Focar na minha cachorra. Ver filmes. Comer brigadeiro. Abro o berreiro.
Choro igual a um neném.
Pedindo socorro.
Ninguém escuta.
Tô sozinha.
Só depende de mim.
Só.
Socorro.
Música da semana
Quando eu tinha 20 e médios anos e todas as angustias do mundo dentro de mim, essa música me fazia sentir leve. Agora, dentro desse furacão, ela voltou a fazer sentido.
Nada nunca vai ser tão ruim quanto já foi. Acredito muito nisso. Mas que bom que as coisas boas do passado seguem fazendo sentido.
Série do momento
The Bear me pegou. Demorei a começar porque desde que Hollywood passou a fazer séries com protagonistas femininas complexas, passei a achar o drama dos homens bobo. Mas aí na falta de algo mais urgente, dei uma chance. Ainda bem.
Realmente, é uma das melhores séries dos últimos tempos. O protagonista é um cara branco ferrado, mas interessante. E apenas um dos ingredientes diversos desse pratão.
Pra quem já chegou na segunda temporada… Sabe o Natal caótico? Minha família era mais ou menos assim até outro dia.
Juro.
Mas melhorou. E como.
Viva a psicanálise.
Vale refletir
Bora parar de se perguntar se tá assustando o cara e começar a avaliar se tá bom pra gente se relacionar com ele? Adianta nada esse relacionamento ir pra frente se você tá passando por cima de você pra tentar agradar o outro. Clica aí pra me escutar.
Viva a psicanálise, The Bear, a poesia e o caos. Um abraço (e uma inscrita)
um abraço enorme em você <3