Existem duas pessoas dentro de mim. Uma que tem plena consciência de que não existe conchinha bem encaixada que pague a paz de espírito de não estar em um relacionamento com um homem. E outra bem romântica que ainda sonha em encontrar um parceiro que some ao invés de sugar.
Passei muito tempo da minha vida lamentando nunca ter namorado. Sentia que existia uma espécie de maldição lançada no meu nascimento para que eu nunca encontrasse o amor. Uma coitada. Destinada a morrer sozinha, sem nunca ter experimentado uma entrega recíproca. A mulher mais rejeitada do planeta.
Depois entendi, a troco de muita psicanálise e boas companhias, que, além das questões psíquicas que vivo elaborando por aqui, nunca dei muita prioridade para relacionamentos amorosos na minha rotina. Enquanto tem bastante gente por aí que destina uma boa dose de energia e tempo em conhecer novos possíveis enlaces, eu prefiro ficar dançando com meus amigos, conversando com quem conheço bem ou vendo TV com a minha cachorra.
Tem também o fato de que tenho uma enorme dificuldade em lidar com homem heterossexual. Acho um bicho duvidoso. Ruim de papo. De humor questionável. E sinto que, para a grande maioria dos relacionamentos heterossexuais funcionar, fica no colo das mulheres a responsabilidade de encontrar o equilíbrio entre as diferenças. O famoso "jogo de cintura". Um gasto energético gigantesco para dar conta das demandas patriarcais, abrindo mão dos próprios desejos em nome de evitar frustrações do outro lado. Exaustivo.
Por outro lado, existe em mim esse fio de esperança de que um milagre aconteça. Que o acaso dê conta de me colocar frente a frente com alguém que eu ache superinteressante e que super se interesse por mim. Um cara que encaixe em mim para além do sexo e dos dias bons. Alguém para me dar a mão com orgulho. Dividir alguns sonhos. Cuidar da minha cachorra quando eu tiver algum problema. Tirar um pouco o peso dos meus ombros de precisar dar conta de tudo sozinha, enquanto permite que eu alivie um pouco da tensão dele também. Numa via de mãos duplas. Com paciência para as minhas lágrimas e com o desejo profundo de me ver sorrindo o máximo possível. Alguém que ame a minha companhia e acredite que ao meu lado a vida é mais feliz.
Fora todos os percalços que qualquer relação precisa enfrentar. Afinal, quando dois universos se encontram, há toda uma gama de desencontros que precisam ser conciliados para que as coisas funcionem, eu sei. Tô disposta a enfrentar certos amargores e sei que relacionamento nenhum salva a gente da solidão. Mas desconfio que ter alguém para olhar nos olhos com intimidade e chamar de casa faz uma baita diferença na rotina.
Então, vivo aqui num eterno desequilíbrio interno que, hora me traz paz, hora me afoga em desespero. A serenidade de quem sabe aproveitar a própria companhia e não encara os relacionamentos como uma necessidade. Confrontando com a agonia de quem queria acordar em algumas manhãs fazendo sexo com quem ama, confia e gosta de conversar. O alívio de saber que não estou gastando tempo e energia com economia do cuidado para um homem que tem mais tempo para se divertir do que eu. Em desacordo com a angústia de não ter por perto alguém com o poder de liberar os hormônios e neurotransmissores mais positivos com uma simples mensagem no meio da tarde.
Não sei se o conformismo ou o objeto da minha esperança vão acabar vencendo nessa história. Adoraria que fosse a segunda opção. Já pensou passar por essa vida sem ter a oportunidade de experienciar uma relação amorosa profunda? Seria uma lástima. Esse lifestyle de solteira me cai muito bem e sei valorizá-lo como poucas, mas meu coração cansado também quer a oportunidade de encontrar um ninho que sirva de porto seguro. Que os orixás me presenteiem com um romance que valha a pena. E que eu saiba aproveitar cada minuto dessa aventura.
O quanto antes possível.
Obrigada.
Tirei tanto o atraso da pandemia ano passado, que este ano estou preferindo dar uma desacelerada nos rolês. Os últimos sábados à noite foram de brigadeiro e série, e os domingos têm sido de patins. Também estou no pique de mais eventos culturais e menos badalação. Além de ter dado uma reduzida forte no consumo de álcool.
Tá gostoso. Fica a dica.
Música da semana
Depois de um relacionamento abusivo, um relacionamento merda e um affair de carnaval que deu muito errado, passei um tempo com bode total de homem. Isso refletiu no meu gosto musical. Passei uns 3 anos só com artistas mulheres (e Heavy Baile) no topo dos mais ouvidos do meu Spotify. Percebi que alguma coisa começou a se curar em mim quando voltei a sentir aconchego ao escutar artistas homens cantando sobre amor e outras emoções. Logo viciei em Jão e Lagum. E até hoje, dois anos depois, seguem sendo os artistas a quem recorro quando preciso de uma comfort music. Então tomem esse feat que amo tanto.
Postcast pra ouvir já
E já que estamos com bandeira branca para homens neste momento, aqui uma dicona de podcast que meu chefe me indicou e acho que todo mundo que gosta de música deveria ouvir. Apresentado pelo pesquisador Fernando Garbini Cespedes, o Ser Sonoro trilha nossa relação com as sonoridades desde os primórdio da humanidade e faz uma leitura interessantíssima sobre acordes, captação, colagens e tudo mais que tem a ver com esse universo. Sensacional. Estou aqui aguardando a prometida segunda temporada.
Muito bom! Será que somos a mesma pessoa? hahahh tenho 30 anos e me identifico muito com seus textos.
Amei "a bandeira branca", texto adorável e muito maduro. Que venha um bonitão em breve para voce eu e os orixás estamos torcendo!