Nó na garganta. Peito travado. Choro incontrolável. Sempre achei que as minhas crises de angústia eram fruto de uma tristeza chatinha que mora em mim desde pequena. Um transbordar sufocante que deixava escapar sem meu consentimento que, por dentro dessa pessoa alto astral, existe muito sofrimento. Uma melancolia enraizada. Uma tendência à depressão.
Acertei na parte do sofrimento.
Errei na causa.
Na verdade, o combustível dessa dor que me asfixia não é tristeza. É raiva.
Raiva reprimida.
Muita raiva.
Muito reprimida.
Percebi faz pouco tempo, depois de um processo que prefiro guardar pra mim. Mas que é provavelmente uma das descobertas mais importantes da minha vida. Meu choro incontrolável é de ódio. De fúria. De vontade de quebrar tudo. E, como não posso, desconto em mim. Me martirizo. Me destruo.
Devia ter desconfiado antes. Afinal…
Faço as sessões de análise gritando.
Paro de espiralar só depois de berrar com minha mãe ao telefone (mesmo quando não é ela a culpada).
Comecei a escrever justamente para despejar em palavras a ira que eu não podia despejar na cara dos outros (com a minha mão, no caso).
Entre outras coisas, é claro…
E qual não foi a minha surpresa quando, no meio dessa minha descoberta pessoal, estudei a conferência 32 do Freud, Angústia e Instintos. Nela, ele explica que a criança sente vontade de destruir os pais por ódio. Uma vontade que é domada pelo Supereu e retorna para ela na forma de culpa. Tudo muito inconsciente. E esse é um processo psíquico que a gente acaba reproduzindo ao longo da vida. A agressividade que a gente quer jogar no outro, mas não deve, acaba retornando pra gente na forma de angústia.
Pimba.
Sei bem como é que é, Freud.
Culpada. Em todos os sentidos.
Agora que enfim sei disso. Não só intelectualmente, mas com as minhas entranhas, sinto que tenho uma vida nova pela frente. Uma vida em que reconheço a minha raiva. Em que eu olho no olho dela enquanto ela grita pra mim. Em que eu grito de volta se for preciso. Até que eu encontre formas dela desaguar em outros lugares que não seja entupindo a minha garganta. Nem metendo a mão na cara de ninguém, é claro.
Por enquanto é isso: raiva, finalmente eu te escuto. Bora descobrir o que você tem a me ensinar.

Música da semana
Estou 100% sabrinacarpenternizada e essa música tá no meu repeat há dias. A gata me ganhou quando eu tava me aquecendo pra The Eras Tour (ela era o número de abertura) e, desde então, só trouxe boas surpresas. Pop de la pop. Acidez servida com melaço. E uma enorme representante do estilo estético que eu carrego há anos: pirigueti romântica. Te amo, Brina. Obrigada por tanta música boa de cantar esguelando rebolando o bumbum.
Não é quebrada
Recado importantíssimo pra quem aí acha que nunca vai encontrar um amor porque veio estragada. Dá o play.
Um passo quântico !
Suprimir sentimentos é sofrido, mas não saber o que te causa dor é mais sofrido ainda.
Que seja mais um momento de aprendizado, e melhor, de um grande alívio !
P.S. mãe nem imagina que causa este tipo de sentimento num filho.